Ontem, li um excelente post de Mario Soma em seu blog. Veja aqui. Mario está certíssimo. Esse negócio de crise generalizada gera um espiral difícil de entender e de dominar. Parece que todo mercado combina assim: — Vamos entrar em crise? Todo mundo topa entrar em crise? Então tá. Estamos em crise a partir de agora. Confesso que, na minha avaliação, parte desse processo cabe aos profissionais de comunicação que adoram uma boa chamada de capa.
Na quinta passada, eu tive conhecimento de um caso de um empresário que é emblemático. Esse senhor, que é um grande distribuidor nacional, disse que trabalha com quatro grandes fornecedores de material eletrônico. Ele contou que um dos fornecedores resolveu aumentar imediatamente os preços em 15%, já se antecipando a uma possível inflação ou especulação de mercado. Dois outros fornecedores, que são multinacionais, decidiram
diminuir a produção, considerando que o mercado vai desacelerar, e seus produtos já começam a faltar. O último fornecedor continua firme, produzindo e vendendo seus produtos no mesmo ritmo e com o preço antigo, honrando seus contratos, sem dar bola para crise. O que ocorreu? Esse grande distribuidor, um dos três maiores do Brasil, passou a concentrar suas compras no último fornecedor, que praticamente triplicou seu volume de negócios com o distribuidor em apenas duas semanas. Ou seja, num período de 15 dias, esse fabricante de produtos eletrônicos ganhou dois pontos percentuais de participação de mercado no segmento em que atua, o que significa algumas dezenas de milhões de dólares por mês.
Esse mesmo empresário, que também é um grande distribuidor de comida industrializada no país (enlatados, biscoitos, massas, grãos, etc), disse que o fornecimento de comida para o interior do país – que alimenta os mercadinhos, as biroscas e os comerciantes individuais – continua forte e em crescimento. O consumo continua superaquecido. E por que isso acontece? Segundo o empresário, é porque esses comerciantes do interior não sabem que estamos em crise. Ninguém combinou com eles, nem com os clientes deles. Ou seja, no interior do país a crise não existe. A crise existe mais nos jornais e na mídia do que na vida real. Enfim, os comerciantes do interior não sabem que todos combinaram entrar em crise.
Eu acho que o pessoal de comunicação nas empresas tem um papel importante nesse cenário pré-catástrofe. Grosseiramente, podemos dividir em três perfis:
– têm aqueles que adoram falar da crise, mostrar dados, falar do caos e reverberar as previsões catastróficas dos analistas. Ou seja, são aqueles que amplificam a crise;
– têm aqueles que são passivos, que vêem a crise, até falam e escrevem a respeito dela, mas que
agregam pouco valor ou conhecimento ao que já existe nos jornais. Ou seja, são os expectadores da crise;
– e têm aqueles que agem como o Mario fala em seu post. Ou seja, ampliam a conversa com o ecossistema da empresa, criam canais de comunicação de mão dupla, permitem que os empregados conversem abertamente sobre o tema, criam oportunidades que ajudam e educam as pessoas a respeito desse cenário, etc. São os que preservam a transparência e incentivam a pluralidade de visões a respeito do tema, aqueles que buscam diferentes meios de conversação, pontos de vista alternativos e análises sob diversos prismas. Estabelecer essa visão é fator importante na comunicação interna e externa das empresas.
Enfim, vale muito a pena ler o post do Mario.