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As respostas estão sempre dentro de você

Sabe quando você vive uma experiência na vida e nunca mais esquece? O que vou contar aqui é um desses momentos.


Há 18 anos eu fui convidado por um headhunter para uma conversa a respeito de um super cargo executivo em uma grande empresa nacional, muito conhecida. Ele não era qualquer headhunter, era Sérgio Averbach, atualmente CEO da Korn Ferry para América do Sul. Naquela época ele era um dos diretores da Egon Zehnder.


Eu já contei em outro post uma parte dessa história, mas agora confesso algo muito pessoal dessa mesma história. Sem dúvida foi a reunião mais impactante e emblemática que eu já tive com um headhunter.


Lembro que entrei na sala da reunião muito acanhado. Eu era muito inexperiente em lidar com esse tipo de situação e sempre me achei despreparado para todas as oportunidades de trabalho que apareciam.


Ele me recebeu super bem. Sentamos ao redor de uma grande mesa, coloquei o meu caderno na minha frente, peguei a caneta, abri uma folha em branco, escrevi o nome dele e a data. Ele olhou o meu movimento, curioso. Acho que ele não estava acostumado com aquele comportamento. Ele puxou a conversa.



Por diversas vezes eu tomava notas no caderno do que ele falava. Ele olhava para mim e para o caderno, acompanhando o movimento das minhas mãos, possivelmente curioso com a minha preocupação em tomar notas. Em apenas 15 minutos eu já tinha clareza que o meu perfil e experiência não eram compatíveis com a posição executiva em discussão. Eu parecia muito mais júnior do que o cargo exigia.

Na minha cabeça eu pensei: “Pronto! Acabou! Agora ele vai acelerar o papo e terminar a reunião”. A preocupação em anotar as coisas me perturbava, eu não conseguia prestar atenção plena no que ele falava. Eu tentava anotar no caderno ao mesmo tempo que tentava seguir a conversa dele. Eu me desconcentrava em vários momentos e ficou evidente que ele também. Assim que eu senti que aquela conversa não levaria a nada, decidi fechar o caderno, guarda-lo na pasta e continuar com a conversa para esperar o fim eminente. Parecia uma questão de minutos.


Curiosamente, a partir daquele ponto, a conversa tomou mais uma hora.


Sérgio Averbach foi profundamente generoso comigo. Ele viu que eu era imaturo, tinha dúvidas básicas sobre que caminhos seguir na carreira. Eu não tinha clareza das minhas virtudes, vulnerabilidades e até das aspirações. Ele esqueceu o papo sobre a posição executiva em aberto e mudou a direção da conversa.


Ele começou a conversar sobre mim. Fez dezenas de perguntas, organizou a minha cabeça, me desafiou e estruturou as minhas incertezas. Houve um profundo contato visual, nos conectamos, ele sentiu que havia em mim um potencial executivo, viu os meus olhos brilhando e o meu entusiasmo latente.


Ele descobriu um futuro em mim que eu não via, que ninguém havia me sinalizado. Ao esquecer as anotações e relaxar quanto à oportunidade de trabalho, eu consegui me conectar integralmente com ele, numa conversa franca e aberta.


Essa foi a experiência mais valiosa que tive em minha vida sobre aconselhamento de carreira e de coach executivo. Nenhuma outra situação superou aqueles 60 minutos.


No final daquela conversa parecia que um novo horizonte havia surgido para mim, cheio de possibilidades, com mais clareza e confiança do que perseguir. Ao terminarmos o papo, já nos sentindo mais íntimos e à vontade, ele demonstrou preocupação com o horário por conta do seu próximo compromisso.


Virei para ele e falei: “Desculpe pela minha inexperiência, pela minha ansiedade em anotar coisas em meu caderno. Aquilo atrapalhou mais do que ajudou. Eu queria anotar os principais pontos para não esquecer”. Falei aquilo com total sinceridade.


Naqueles 60 minutos o Averbach praticamente só fez perguntas. Ele me desafiava a respondê-las. No fundo eu não precisava anotar nada, porque as respostas estavam dentro de mim o tempo todo, eu só não as conhecia porque ninguém até aquele dia havia feito as perguntas corretas.


Averbach virou para mim e falou: “Eu não quero que você se lembre da nossa conversa pelo que eu falei, mas sim pelo que você sentiu e pelo que você mesmo concluiu do nosso papo. O importante não é o que eu disse, mas o que você falou e o que ficou na sua mente. Isso você carregará pelo resto da sua vida e nunca precisará de um caderno”. E nos despedimos.


Aquele encontro me trouxe várias lições.


A primeira é que nos momentos únicos da vida é preciso estar por inteiro, de corpo e alma, de forma integral, totalmente concentrado e atento. Você vai lembrar desses momentos pelo que sentiu, pelo que ficou dentro de você e não pelas notas de um caderno.


Também aprendi que muitas vezes as perguntas são mais importantes do que as respostas.


Por fim, a generosidade do Averbach. Ele entendeu o que estava se passando e dedicou o seu tempo para me ajudar pessoalmente.


Nunca esqueci disso. Ajudar pessoas em sua carreiras se tornou uma prática minha ao longo do tempo. Saí mais maduro e confiante daquele encontro, com mais clareza de qual caminho eu deveria perseguir.


Nos meses seguintes tomei uma decisão que mudou completamente o curso da minha carreira, mas essa é outra história.

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