No início de tudo, durante a fase inicial do meu luto, minha mente super valorizava o passado e considerava que o presente não fazia mais sentido. Se o futuro sonhado havia se perdido para sempre, por que viver o presente se o futuro não me mais importava?
Com os estudos de filosofia e outras ondas porque qual passei, já contado e recontado no meu blog, o meu entendimento a respeito do tempo foi ganhando novas tinturas. É parecido com o que acontece quando nos mudamos para uma nova casa, onde no início tudo parece confuso e perdido, mas depois, aos poucos, vamos colocando as coisas em suas posições, os espaços vão surgindo e tudo fica organizado e bonito, com tudo em seu devido lugar. Foi isso que aconteceu com a minha cabeça. As coisas foram se ajeitando e a mente foi ficando mais limpa e iluminada, desnudada da melancolia, desesperança e tristeza que surgiram com o luto.
Então, eu entrei na onda de que a única coisa que valia a pena, em relação ao tempo, era o PRESENTE. Eu mesmo escrevi vários artigos no meu blog refletindo que o que importa é o presente, que o futuro é algo que a gente não tem (uma carta de intenção) e que o passado é alguma coisa que já foi, como no artigo “Todas as possibilidades estão no agora”. Neste artigo eu apresento a minha fórmula pessoal de viver o presente e conto detalhadamente uma cena muito especial do filme “A vida secreta de Walter Mitty” que representa muito bem o conceito.
A continuidade dos meus estudos de filosofia, espiritualidade e em áreas que ajudam a expansão da minha consciência, aliada a algumas experiências de transcendentalidade (como a consagração do Santo Daime), trouxe uma nova luz sobre esta questão do tempo.
Hoje eu penso diferente. Descobri que presente, passado e futuro ocorrem ao mesmo tempo. Eles estão entrelaçados como um novelo. Tudo acontece junto como uma única coisa embolada, indissociável, o que contradiz radicalmente o conceito de espaço-tempo que conhecemos em nosso mundo físico conhecido e palpável.
O presente é que o que realmente vivo, fisicamente e mentalmente. O presente é o que penso, sinto e realizo. No entanto, o presente é uma efemeridade. Em poucos segundos o presente vira passado. Cada minuto que vivo é irrecuperável.
O futuro é construído a partir de minhas escolhas. Desta forma, quando vivo conscientemente o presente, eu construo o meu futuro, minuto a minuto. É tijolo sobre tijolo.
Quanto mais escolhas conscientes, mais próximo estarei do futuro que almejo. Ou seja, o futuro não acontece, ele é construído a partir de minhas decisões no presente, diante dos acontecimentos, inclusive daqueles que não tenho controle e, principalmente, do meu livre arbítrio e liberdade.
E o passado?
O passado não é meramente factual. O passado que habita a minha mente não é constituído apenas dos acontecimentos verdadeiramente ocorridos. Ele é resultado da minha interpretação sobre tais fatos, com grande influência do conjunto de valores, crenças e vieses que carrego comigo. Ou seja, o passado que está dentro de minha cabeça é fruto de minha percepção e imaginação.
Existe um segredo em relação ao passado: a forma como “eu o emolduro” em minha mente. Para o mesmo passado, eu posso colocar diversas molduras. Dizendo de outra forma: o passado pode ser ressignificado por mim, a qualquer momento.
Eu posso olhar o passado registrado na minha cabeça e retirar dele uma lista enorme de aprendizados, desenvolvimentos, conquistas e alegrias, especialmente quando reflito sobre os momentos mais difíceis e tristes que vivi. Os fatos do passado não podem ser mudados, mas eu posso mudar a forma como interpreto e absorvo o que experienciei.
Apesar de parecer um contrassenso, o passado é mudado constantemente a partir do presente.
Conforme eu me desenvolvo como ser humano, ficando mais maduro e lúcido, evoluindo em meus valores, crenças e percepções de mundo, o meu passado também vai ficando diferente. Fatos e acontecimentos ocorridos vão ganhando novas interpretações e conexões. Parece que o passado vai ficando “mais assimilável”, e vou entendendo mais profundamente que o passado foi o que me possibilitou chegar ao presente. O passado torna-se mais rico e mais amplo conforme vou envelhecendo.
Eu seu livro chamado “Why We Remeber” (o livro não tem versão em português), o neurocientista Charan Ranganath afirma: “a memória é muito, muito mais do que um arquivo do passado; é o prisma através do qual vemos a nós mesmos, aos outros e ao mundo”. Ranganath é professor de psicologia na Universidade da Califórnia e passou as últimas décadas explorando os processos cerebrais por trás da nossa capacidade de recordar, de lembrar e de esquecer.
O passado é como uma pequena planta. No início, uma planta é simples e pouco interessante, mas com o passar do tempo ela vai crescendo, se transformando em uma árvore, repleta de galhos e folhas, com raízes profundas, copa frondosa, que nos dá sombra e nos acolhe. O passado é assim também. Com o passar do tempo, com o acúmulo de experiências de minha vida, o meu passado vai se expandindo, estabelecendo novas conexões, como uma teia sendo tecida, que funciona como uma trama do que eu sou e penso que sou.
O correr do tempo faz o meu passado ganha novas nuances, em função da minha própria renovação como ser humano, da forma como vejo os outros e o próprio mundo. Ou seja, o tempo renova a leitura e a minha visão do passado, moldando-a constantemente e assumindo novas formas e texturas.
A conclusão é que o presente continua sendo o mais importante. Porém, o meu presente ressignifica o meu passado. E, conforme o tempo avança, o meu presente constrói o meu futuro, minuto a minuto. Tudo acontece simultaneamente. A cada minuto que vivo, eu mudo o passado e o futuro.
Santo Agostinho, em sua obra Confissões, faz uma análise profunda e complexa sobre o tempo. Conforme a gente vai lendo, a coisa vai ficando até um pouco doida, mas confesso que é muito legal, especialmente para quem tem estudado filosofia, espiritualidade e física quântica, como eu, que juntando tudo cria uma salada interessante, que parece fazer todo sentido e explica quase tudo que é inexplicável no universo.
Se tiver disposição, leia o artigo “A experiência do tempo nas Confissões de Santo Agostinho”, onde o autor Vicente Artuso faz um bom resumo desta obra.
A análise de Santo Agostinho sobre o tempo pode ser resumida da seguinte forma: o passado é a reconstrução de uma memória no presente. Mas não é exatamente como aconteceu — é uma memória presentificada pelo que você é hoje. O futuro é a presentificação do que ainda não foi vivido. Algo que não existe e que poderá nunca existir. E mesmo que aconteça, não será como imaginado. Porque essa antecipação é presentificada pelo que você é hoje, e não pelo que você será amanhã. Esse recuo e avanço no tempo esgarça e dilui o presente, a vida vivida de fato. E esse “ausentar-se” do tempo presente é perigoso. Há pessoas tão viciadas na espera da felicidade que quando ela chega, não se dá conta. Porque não estão lá no instante da chegada para recebê-la.
O parágrafo acima foi retirado do delicioso artigo “Liberte-se, do passado e do futuro, e viva no presente” de Margot Cardoso. Vale muito a leitura.
Uma outra fonte interessante que joga reflexões sobre o tempo, desta vez com uma pegada ainda mais “alternativa”, é o episódio “Bashar prevê a grande mudança da humanidade em 2024”, no canal “Next Level Soul Português” no Youtube. Ali rola um papo meio louco sobre o conceito do tempo, misturado com espiritualidade. Eu gostei demais pois vivo uma fase em que coisas loucas me atraem muito.
Recomendo o canal “Next Level Soul Português”, mas prepare-se porque a sua mente pode não estar preparada para papos tão transcendentais e fora deste mundo. Portanto, ouça com moderação e mente muuuuuuuito aberta. Aperte o cinto.
No episódio citado, Alex, o entrevistador, conversa com Darryl Anka, conhecido palestrante, escritor e, especialmente, médium que canaliza uma entidade espiritual chamada Bashar.
Alex faz perguntas sobre vários temas, entre eles:
passado, futuro e presente acontecendo simultaneamente no mesmo instante;
o que fazemos a cada minuto cria ondulações para trás e para frente;
o papel de sermos observadores da nossa realidade;
efeito Mandela;
resistência à mudança;
o fluxo da vida.
Darryl (ou Bashar) divaga sobre estes temas e apresenta profundas reflexões. Compartilho algumas pequenas anotações desta conversa.
Nós criamos a nossa realidade. Moldamos a nossa experiência conforme as nossas crenças sobre nós mesmos e o nosso lugar no consenso coletivo, assim o efeito observador é de fato a causa observadora. No funcionamento da realidade física é como um espelho que reflete o que emitimos, conforme a física quântica começa a entender. Estamos participando do que estamos vivenciando. Não é em uma coisa objetiva, é uma coisa subjetiva. Quando temos uma perspectiva e um sistema de crenças específicos, só vemos isso. Ao mudarmos nossas crenças, enxergamos coisas diferentes. É complexo como um holograma. Tudo está aqui, mas 99% é invisível, até que mudemos nossa frequência, com se trocássemos o canal da TV. E então percebemos algo diferente, que sempre esteve aqui, mas que não conseguíamos ver porque não estávamos na mesma onda, não estávamos sintonizados naquele canal. Então, tudo é resultado do que escolhemos observar, baseado no que acreditamos ser verdade ou o que é relevante para nós vivenciarmos, o tema que escolhemos explorar, como seres espirituais nesta experiência da realidade física.
Precisamos expandir nossa consciência para algo que nunca foi considerado antes. Precisamos nos familiarizar com o desconhecido. Nós resistimos à mudança. Mas a mudança é a única constante. Tudo está sempre mudando. Então a resistência é o grande desafio que precisamos superar, porque a resistência causa dor e gera cicatrizes. Precisamos entender que cada um de nós tem uma corrente no oceano da criação, e precisamos seguir esta corrente porque ela sabe exatamente para onde precisamos ir e nos levará até lá. No entanto, os sistemas de crenças que mantivemos por centenas e milhares de anos nos fazem, de certa forma, resistir. Não queremos que as coisas mudem de determinadas formas, mas é assim que a corrente flui e a resistência do nosso verdadeiro eu (o nosso “eu natural”) é não saber para onde isso vai nos levar. O medo do desconhecido, do que ele contém, é que cria toda a luta, o sofrimento e os desafios negativos que vivenciamos.
A dor é a resistência ao “eu natural”. É lutar contra a correnteza, nadar contra a maré, porque temos medo do que está rio abaixo, porque não sabemos o que está lá, porque temos a definição de que “um lugar desconhecido” é um lugar sombrio e assustador, que se simplesmente mergulharmos nele, vai nos engolir vivo e nos aniquilar. Mas não é isso que vai acontecer. A única coisa que você vai descobrir no desconhecido é mais de si mesmo.
As pessoas precisam se acostumar com a ideia de que não precisam fazer a vida acontecer. Elas só precisam permitir que aconteça, permitir que se desdobre, porque o seu “eu natural” está tentando trazer tudo que precisam para se sentirem realizados, mas as crenças delas criam resistência a isso. A nossa mente física tende a operar com se tivéssemos que saber tudo, conhecer cada detalhe para nos sentirmos seguros. Mas você não precisa saber de todos os detalhes, você só precisa confiar que todos os detalhes se encaixarão. E isso é a forma de pensar bem diferente do que usamos por milhares de anos. Um de nossos maiores desafios é que temos que mudar o nosso modo de pensar como a vida funciona.
Em 2012, em uma palestra no TEDx, o físico italiano Carlo Rovelli, começou sua apresentação dizendo: “O tempo não existe. E eu tenho 15 minutos para convencê-los disso“. E, logo depois, olhou para o seu relógio de pulso.
Em 2020, no evento “The Nature of Time” (A Natureza do Tempo), organizado pela revista New Scientist, o mesmo Carlo Rovelli fez um experimento no palco. Ele pegou uma corda e a esticou de uma ponta a outra do palco, então pendurou uma caneta no meio da corda para marcar o tempo presente e começou a discorrer a sua teoria sobre o tempo. A íntegra da palestra este neste link.
Carlo Rovelli é conhecido por seus livros, que aborda física quântica de uma forma acessível para leigos e por defender que o tempo é uma ilusão. Eu gosto da forma como ele se apresenta e defende seus pontos, porque ele procura ser didático e prático, apesar de física quântica ser um tema super complexo. Para conhecer mais sobre ele e sua linha de estudo, recomendo o artigo da BBC Brasil: “O tempo não existe: a visão de Carlo Rovelli, considerado novo Stephen Hawking”.
Bradford Skow, professor de filosofia no MIT (Massachusetts Institute of Technology), afirma que o tempo não se comporta como nós o percebemos, sendo diferente de “um rio que corre”. Ele afirma que passado, presente e futuro existem de modo simultâneo, mas em dimensões diferentes. Esse é o fundamento de sua teoria chamada “Block Universe”, que traduzido para português seria “Teoria do Universo em Bloco”.
Em seu livro “Objective Becoming”, Bradford Skow defende que o tempo deve ser considerado como uma dimensão do espaço-tempo, como sustenta a teoria da relatividade de Albert Einstein. Dessa maneira, o tempo não “passa” por nós, mas faz parte do tecido maior do universo – ao invés de ser algo que se move dentro dele.
“A Teoria do Universo em Bloco diz que você se espalha pelo tempo, da mesma forma como se espalha no espaço”, explica Skow. “Não estamos localizados em um único momento”. Ou sejam, eventos ocorrem, pessoas envelhecem e assim por diante. “As coisas mudam”, afirma o professor, “mas o passado não desaparece, ele simplesmente existe em diferentes partes do espaço-tempo“.
Todas as referências acima, de certo modo, sustentam o meu entendimento sobre a ressignificação do passado e a sensação de que tudo acontece junto.
Eu não cheguei nestas conclusões por conta da leitura e estudo destas obras. O que aconteceu comigo foi uma evolução do meu ser interior. Eu vivi uma profunda mudança interna, estabelecendo novas percepções de vida e do meu contexto existencial, onde o tempo foi sempre elemento fundamental. Ao emergir tais reflexões, inicialmente de forma muito intuitiva e instintiva, eu tratei de procurar por novos conhecimentos e por fundamentos mais sólidos que poderiam dar mais sustentação para minha evolução.
A evidência de como a minha percepção existencial mudou, especialmente sobre o tempo (incluindo passado, presente e futuro), foi o artigo “Reescrevendo o contrato da minha vida”, quando escrevi cartas para mim mesmo em um intervalo de 3 anos. As cartas parecem falar de dois seres humanos diferentes. Tais diferenças mostram o quanto podemos evoluir e nos transformarmos ao longo do tempo, basta reconhecermos o rio caudaloso cortando o nosso caminho, nos jogarmos nele, aceitarmos a correnteza, aproveitarmos a viagem e vivê-la integralmente.
Hoje eu estou convencido de que posso mudar a minha vida a qualquer momento e tais mudanças alteram o passado e o futuro… o tempo todo. Ao ampliar a minha percepção de vida, enfrentar meus preconceitos, derrubar minhas crenças limitantes, aceitar minhas fraquezas e limites, evoluir em meus valores morais e éticos, me aprofundar na espiritualidade, aprender sobre as leis que regem o universo e conhecer mais o meu “eu interior”, eu consegui expandir a minha consciência, me permitindo ver e entender a riqueza do meu passado, com novas nuances e detalhes, bem como trazendo mais lucidez e consciência para minhas escolhas no presente, que cria o meu futuro, minuto a minuto.
A minha vida, bem como meu bem-estar, felicidade e realização, estão dentro da minha mente. A realidade é o que está dentro da minha cabeça. Todo o resto é uma ilusão, tal qual ocorre com o tempo. Como escreveu Albert Einsten, em uma carta: “a diferença entre passado, presente e futuro é apenas uma persistente ilusão”.