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Todas as Possibilidades estão no Agora

Sean, um fotógrafo famoso, está no alto das montanhas do Himalaia, no Nepal. O ambiente é árido, gelado e hostil. Ao lado dele, Walter acompanha tudo. Os dois estão posicionados atrás de uma grande pedra, observando silenciosos o outro lado da montanha. Tripé montado. Máquina fotográfica pronta para disparar.

O objetivo de Sean é fotografar um raro leopardo-das-neves. Provavelmente esta será a sua fotografia mais famosa, poderá ser o ápice de sua brilhante carreira. Ele está nas montanhas há muitos dias, esperando pacientemente. Nada acontece, com exceção do vento frio cortante, a imensidão de pedra e a esparsa neve espalhada.

Walter, ao lado do fotógrafo, olha tudo desesperançoso. Ele não entende muito bem a cabeça do fotógrafo, já que as chances do aparecimento do raro animal são quase nulas. E assim, o tempo passa.

Em determinado momento, o fotógrafo cutuca Walter no ombro e pede para ele se aproximar da câmera. Walter se ajeita, toma o lugar do fotógrafo e olha pelo visor. Lá estava o raríssimo leopardo-das-neves, exatamente no centro do visor.

Walter olha incrédulo, enquanto o fotógrafo sorri levemente o sorriso dos campeões prestes a “cruzar a linha chegada da maratona”. Walter se esquiva e dá lugar para Sean, que volta a olhar o visor.

O leopardo parece olhar para câmera. Dá a impressão de que o felino já identificou a existência de intrusos na montanha. Ele está paralisado, encarando a lente de frente, quase fazendo pose. O fotógrafo continua lá, impassível.

Segundos passam. O mundo parece ter parado de girar naquele momento. O belíssimo animal está lá, parado, enquadrado na câmera, mas o fotógrafo não faz o click. Ele se afasta do visor, levanta o rosto e encara o animal. A mão está longe do botão disparador.

Walter se mantém olhando para o fotógrafo. Ele não resiste e pergunta baixinho, quase sussurrando: “Quando você vai fazer a foto?”

Sean não se vira para Walter. Continua na mesma posição, com o rosto acima da máquina, olhando o animal com os olhos, quase hipnotizado pelo momento. E responde: “Às vezes, eu não faço a foto. Se eu pessoalmente gosto de um momento, eu não quero ser distraído pela câmera.”

Mais segundos se passam. O fotógrafo continua impassível, olhos fixos no animal, e conclui: “Eu só quero ficar nele!”

Walter, olhando fixamente para o fotógrafo, incrédulo, balbucia: “Ficar nele?”

E Sean responde: “Sim, nele! Bem ali!”

Aí ele se vira para Walter e sorri, como se estivesse oferecendo para Walter a chave de tudo.

Walter continua com olhar vazio, sem entender muito bem o contexto. O fotógrafo sorri mais uma vez, se vira de novo para frente, na direção do animal e exclama: “Agora já foi, já passou.”

Apenas neste instante Walter se vira na direção do animal. E não mais o vê. Ele foi embora. Durante toda aquela fração de tempo, Walter não olhou o animal.

Esta é uma cena do filme “A vida secreta de Walter Mitty” e, na minha avaliação, é um dos momentos mágicos deste filme negligenciado pela crítica e pelos cinéfilos. O longa-metragem não é apenas um excelente entretenimento, ele é um baú do tesouro repleto de lições de vida.

A lição dada pelo famoso fotógrafo para Walter foi simples: quando o momento é especial, único, como aquele, ele vive o momento, e nem sempre fotografa.

MEMÓRIA VOLÁTIL

Eu tenho uma característica desde a infância: eu esqueço as coisas facilmente. Sempre fui assim. Obviamente que tenho lembranças da minha história, mas me lamento porque muitas vezes não lembro de detalhes de fatos importantes que vivi ao longo das décadas. Ao me comparar com a maioria das pessoas, eu me considero uma pessoa diferente. Intimamente, eu passei a chamar isso de memória volátil.

A busca por contornar ou amenizar esta minha “deficiência” provocou o desenvolvimento de vários comportamentos ou artifícios. Cito aqui dois comportamentos, ou manias, que pessoas amigas já conhecem: cadernos e fotos.

Eu anoto tudo em cadernos, que se tornaram companheiros importantes para registros pessoais e profissionais. Isso me toma tempo e me cansa, mas se não fizer isso eu sei que vou esquecer coisas importantes. Já escrevi bastante em meu blog sobre isso.

Eu adoro fotografar! Fotografo tudo! Tem sido assim desde que ganhei a minha primeira máquina fotográfica aos doze anos de idade. Amigos me chamam de “chato”, mas eu nem ligo. Eu mesmo me reconheço como chato devido ao meu latente excesso com fotos. O que eles não sabem é que faço fotografias por conta da minha memória volátil. As fotos me ajudarão na ativação da minha lembrança na tentativa de reviver aquele momento.

Os exemplos acima sempre consumiram atenção e tempo preciosos de minha vida, roubando o “viver o momento”. Quando tomo notas ou faço fotos, eu estou fazendo uma escolha, que no meu caso significa abrir mão de viver integralmente o momento para, em troca, registrar algo em texto ou imagem. Tenho consciência disso! Eu não gosto, mas é uma questão de escolha.

Fico imaginando se eu estivesse no lugar do Sean ou Walter, nas montanhas do Himalaia, sozinho, prestes a fotografar um raríssimo animal. O que eu faria? Será que eu teria coragem de manter o smartphone ou a máquina fotográfica desligada para viver integralmente o momento? Bem, eu tive uma experiência.

Foto de Mauro Segura

O MEU MOMENTO

No ano passado, 2022, eu vivi algo parecido com a história que contei acima. Foi quando eu fazia o Caminho de Cora Coralina, no interior de Goiás, em uma jornada solitária de caminhada de duzentos quilômetros cruzando o cerrado, com uma mochila nas costas.

Eu estava entre as cidades de Radiolândia e São Francisco. Era uma estrada de terra, desolada pela secura e pelo calor excessivo, porém com a visão de um cartão postal de três cores: o caminho de terra cor de ocre, o céu de azul intenso e o mato de cor amarela, castigado pelo sol.

Ao longo da caminhada eu ficava imaginando o resto do mundo na loucura de suas atividades diárias, lidando com suas obrigações e agendas pesadas, o trânsito nas cidades, e eu ali, no meio daquela imensidão multicolorida, vivendo uma paz celestial, em outra dimensão de tempo, sem pressa ou qualquer pressão, apenas usufruindo da natureza, da paz e da beleza ao meu redor.

Sol a pino! Era perto de meio-dia. Eu já havia caminhado perto de quinze quilômetros em trilhas e estradas praticamente sem sombra. Em determinado instante me deparei com um cenário incomum na vegetação natural do cerrado porque entrei em uma espécie de “túnel verde” formado por árvores altas, com sombras generosas e clima mais agradável. Ouvi uma algazarra e vi centenas de pássaros voando juntos.

Os pássaros tinham cores vibrantes. Voavam em grupo, como uma nuvem gigante multiforme, mudando de direção repentinamente, em uma série de acrobacias divertidas perfazendo um balé maravilhoso. O som era muito alto porque todos os pássaros pareciam cantar ao mesmo tempo. Até hoje não consegui descobrir exatamente quais pássaros eram aqueles, pareciam canários multicoloridos.

Minha primeira reação foi pegar o smartphone para filmar aquilo, mas fiquei paralisado, pensando: “Por que filmar? Para que filmar? Para quem filmar?” E, se filmar, eu vou perder a majestade e a grandeza de viver ao vivo aquele momento e a cena ficará apenas na minha memória emoldurada pela tela do celular.

Os pássaros bailavam de um lado para outro, fazendo um barulho ensurdecedor e criando uma imagem de festa e celebração. Deixei para decidir depois se filmava ou não… e os segundos… talvez minutos… foram passando… os pássaros continuavam na minha frente e acima de mim. Depois foram embora.

Em todas as minhas longas caminhadas em trilhas eu nunca vi algo tão lindo como aquela experiência. Eu vivi aquele momento!! Tenho na memória como um “grande momento” que valeu ser vivido e não fotografado ou filmado. Foi tão impactante, que até hoje eu tenho esta vivência claramente na minha memória, em detalhes, sem precisar de fotos ou vídeo.

Ao pesquisar mais sobre aquilo, descobri que este fenômeno é chamado na América do Norte de “murmuration”. Descrevendo resumidamente, “murmuration” se caracteriza por enormes grupos de pássaros que giram, mergulham e rodopiam pelo céu formando lindas nuvens multiformes, que mudam de forma o tempo todo. Eu vivi uma espécie de “murmuration” no cerrado. Achei na internet muitos vídeos legais sobre isso e um deles é esse a seguir, feito em algum lugar nos Estados Unidos.

FAZER ESCOLHAS

Quando pensamos no tempo, normalmente o segmentamos em passado, presente e futuro. É assim que vemos o tempo! Simples assim!

O FUTURO é algo que ainda não temos e que, na verdade, nunca teremos. Porque o futuro está sempre a frente, é algo que nunca alcançaremos porque ele se movimenta conforme o tempo passa. Quase sempre imaginamos o futuro melhor do que o presente, pelo menos temos esta esperança e expectativa, porque nos consideramos como seres evolutivos, vislumbrando novas conquistas a frente, novas oportunidades e aprendizados. O futuro é uma espécie de carta de intenção. Nós idealizamos o futuro, e isso nos gera ansiedade.

O PASSADO é formado por “fotografias” moldadas dentro do cérebro a partir de experiências imaginadas por nós mesmos, que não voltam mais. Nós interpretamos os fatos que ocorrem em nossas vidas e os emolduramos em nossa mente como se fossem “quadros um uma galeria”, e estes quadros se transformam em histórias, muitas vezes romantizadas e idealizadas. Isso se torna o passado dentro de nós.

Quando pensamos no passado, é como se estivéssemos passeando em nossa própria “galeria da vida”. Essa pseudo-galeria está dividida em salas onde colecionamos os quadros, classificando-os como coisas boas, coisas não tão boas, aprendizados, medos, traumas etc. É assim que estabelecemos nossos preconceitos e vieses, mas também boas lembranças, orgulho e registros de conquistas e superações. O passado, quase sempre, nos gera melancolia.

Cabe dizer que qualquer experiência passada pode ser ressignificada, mudando a percepção e a interpretação do passado dentro da gente. Esse é um ponto amplo e impactante. Eu vivi isso! Eu “mudei” o meu passado! Vou escrever sobre isso em um novo artigo porque é profundamente poderoso.

O único momento do tempo que realmente temos é o PRESENTE. O presente se posiciona entre a melancolia do passado e a ansiedade do futuro.

Todas as possibilidades estão no AGORA.

Basicamente VIVER O AGORA tem dois grandes elementos:
1- Como interpretamos e reagimos aos fatos que acontecem cotidianamente em nossas vidas, considerando que a grande maioria deles ocorrem aleatoriamente à nossa vontade;
2- Quais escolhas fazemos daquilo que está sob nosso pleno controle.

O primeiro elemento – que é a nossa reação aos fatos da vida que ocorrem aleatoriamente ao nosso controle e vontade – tem relação com nossa paz de espírito, bem-estar, resignação, aceitação do mundo e do contexto ao nosso redor, humildade, generosidade, consciência de nossa posição do universo, perspectivas etc. É muito amplo. Recomendo a leitura de um livro maravilhoso, chama-se A Arte de Viver, de Epicteto. Os ensinamentos do filósofo Epicteto funcionam como um manual para a vida.

O segundo elemento, que são as nossas escolhas, tem relação com o poder, a autonomia e a responsabilidade que temos de pegar o timão da vida e mudar o curso da nossa existência.

O AGORA é construído a partir de nossas ESCOLHAS.

Foto de Mauro Segura

Todos os dias faço dezenas de pequenas escolhas, talvez centenas. Aprendi que são estas pequenas escolhas que determinam o meu estado de bem-estar, felicidade e realização.

O mundo me pressiona para fazer mais, para ser melhor, para me superar, sob conceitos idealizados de sucesso que nem sempre me parecem razoáveis ou verdadeiros. Se eu não ficar atento, tais conceitos impactarão de forma devastadora a minha autoestima, provocando ansiedade, frustração e infelicidade. Estes “conceitos perversos” influenciam diretamente as minhas escolhas no presente, muitas vezes me levando para direções contrárias do que diz meu coração e das aspirações que idealizo para minha existência.

O conceito de “fazer escolhas” tem amplo espectro e pode ser analisado sob várias dimensões, como nas pequenas atividades rotineiras do dia a dia, em simples vícios comportamentais e em escolhas mais norteadoras de estilo de vida.

Cada escolha é uma renúncia.

Cada escolha tem um preço.

Cada escolha tem custos e ganhos.

Cada escolha gera uma ou mais consequências.

O que é mais importante: a escolha ou a consequência? E se, na hora que eu fizesse uma escolha, eu tomasse a decisão exclusivamente pensando na consequência?

Apresento a seguir uma lista de pequenos comportamentos, simples bobagens dirão alguns, que ilustram o meu ponto:

  • Acordar, e ainda na cama, antes mesmo de escovar os dentes, pegar o smartphone para “ver o que anda rolando” e já interagir nas redes sociais;
  • Tomar café da manhã de forma apressada, as vezes em pé, para não perder tempo, já começando nas atividades diárias de trabalho;
  • Se deslocar para o trabalho fazendo ligações ou mandando áudios pelo whatsapp ao longo do trajeto;
  • Optar por comer um pacote grande de Doritos em vez de uma refeição de qualidade;
  • Mandar um email mal-educado para pessoas do trabalho para mostrar o quanto estou chateado com determinado assunto;
  • Em casa, em um momento de relax, passar longo tempo no sofá zapeando aleatoriamente na Netflix sem objetivo definido;
  • Ir para uma festa tarde da noite, para desanuviar, beber todas, e voltar no meio da madrugada, sabendo que isso vai estragar o dia seguinte porque vai acordar mal e se sentindo “podre”;
  • Publicar fotos e vídeos no instagram para valorizar um “jeito de viver” perante os amigos, como uma obrigação diária, mas sabendo que é “fake”.

Estes bobos exemplos acima configuram indícios de estilos, opções, emoções e sentimentos de vida bem mais impactantes, como por exemplo:

  • percepção de viver integralmente para o trabalho, com sensação de ansiedade crescente, improdutividade e desprestígio;
  • burnout, cansaço mental e físico;
  • distanciamento de pessoas queridas e relações efêmeras e superficiais;
  • dependência excessiva do reconhecimento e aprovação dos outros;
  • uma vida cotidiana com questionamentos de falta de plenitude, propósito e realização pessoal;
  • uma “quase impossibilidade” de responder algumas perguntas como: Quem eu sou? O que eu gosto de verdade? O que eu gostaria de mudar na minha vida para me sentir mais feliz e realizado? O que é realização e propósito de vida para mim?

Pessoalmente, o meu comportamento com cadernos e fotos é um exemplo evidente de escolhas. Esclareço que, nos últimos tempos, eu tenho procurado ser mais comedido com cadernos e fotos, mas não tem jeito, ainda me sinto dependente deles e por isso isto é algo ainda passível de superação de minha parte.

O conceito de fazer escolhas eu aprendi com a vida, porém recomendo dois livros espetaculares que levam esta questão de escolhas ao limite. São dois livros com abordagem parecida, mas profundamente impactantes. O primeiro é “Em busca de sentido”, de Viktor Frankl, e o segundo é “A bailarina de Auschwitz”, de Edith Eva Eger.

Foto de Mauro Segura

A MINHA FÓRMULA PESSOAL DE VIVER O PRESENTE

Uma das escolhas que fiz nos últimos anos, e que virou decisão de vida, é VIVER INTEGRALMENTE O PRESENTE.

O futuro é legal, olho para ele, busco planejá-lo, mas quem manda no meu dia a dia é o presente! É por isso que a história de Sean e Walter é um grande exemplo para mim.

Em algumas situações rotineiras, me pego pensando: ”Simplesmente aproveite. Deixe fluir. Não idealize, viva este momento integralmente”. Quando não é um bom momento, tento tirar o máximo dele, interpretando-o como aprendizado. Por outro lado, quando o momento é bom, minha escolha é saboreá-lo lentamente, como um bom sorvete. Foi exatamente o que ocorreu comigo no episódio do Caminho de Cora Coralina.

Quando analiso a minha vida, tenho a impressão de que eu nunca vivi integralmente os fatos de minha existência. Todos eram tratados por mim, inconscientemente, como uma espécie de preparação para algo melhor que viria a frente, algo para o futuro, que eu deveria planejar, construir e perseguir obstinadamente.

O meu presente sempre foi tratado por mim como uma espécie de trampolim para o futuro. Isso nunca me fez bem porque vivi diariamente com a perversa percepção de que o melhor da vida sempre estaria ainda por ser vivido.

Tenho encarado tudo isso como uma jornada de aprendizado. Aos poucos, fui montando uma prosaica FÓRMULA PESSOAL de comportamentos e atitudes que vem se transformando em uma “filosofia de vida”. São atitudes simples, porém elas norteiam as minhas escolhas e decisões.

Esta “filosofia de vida de viver integralmente o presente” está centrada em 4 comportamentos básicos que busco seguir religiosamente.

1- AUTO-OBSERVAÇÃO – Me auto-observo o tempo todo. Observo as minhas emoções, reações, comportamentos e atitudes perante os fatos da vida. Qual é o meu estado a partir dos eventos da minha vida? É o meu estado que determina o meu bem-estar, paz e felicidade momentâneos. Tento fazer isso como um observador externo imparcial de mim mesmo. Não é fácil, mas aos poucos fui aprendendo. E, a partir disso, a cada dia que passa, eu me conheço melhor e me desenvolvo pessoalmente, reconhecendo e aprimorando meus estados. É uma espécie de autoanálise e autoterapia.

2- SER MAIS EGOÍSTA – Estou mais egoísta comigo mesmo e me coloco sempre em primeiro lugar nas coisas. Esta é uma grande mudança de perspectiva de vida, já que vivi toda a minha vida servindo os outros, sempre colocando família, trabalho e futuro na frente de tudo. Eu nunca havia me conhecido de verdade e isto se tornou um dos principais causadores da minha falta de realização e satisfação pessoal. Só fui me descobrir (e ainda estou nesta fase) poucos anos atrás.

3- UMA COISA DE CADA VEZ – Me concentrar no que estou fazendo no momento. Evito fazer diversas coisas ao mesmo tempo. Quando faço algo, me dedico para a atividade. Ou seja: uma coisa de cada vez, sem pressa ou atropelos.

4- TER UMA AGENDA DIÁRIA – perseguir uma agenda diária de atividades (posso chamar também de compromissos e obrigações) que alcance 3 dimensões:

  • Me sentir PRODUTIVO – significa trabalhar, me exercitar, produzir algo, me desenvolver profissionalmente, que cuide e alimente o meu corpo físico e a minha mente racional. O “sentir produtivo” não diz respeito à quantidade de coisas realizadas ao mesmo tempo, não envolve pressa, mas significa crescimento e desenvolvimento conscientes e consistentes.
  • Alimentar minha MENTE – significa cuidar da minha mente mental e psicológica com atividades que envolvam criatividade, diversão, lazer, leveza, aprendizado e desenvolvimento pessoal.
  • Cuidar do ESPÍRITO – significa buscar atividades focadas na minha alma e espírito, que toquem meu lado emocional, que me elevam e que permitem mergulhos profundos dentro de mim, bem como construir conexões com o universo e outros seres humanos que me levem para entendimentos diversos do que é o mundo.

Foto de Mauro Segura

Esta mudança de direção no transatlântico da minha existência representou uma mudança radical na minha agenda de vida. Estou minimalista, muito mais calmo, sem ansiedade com o futuro.

Quando o foco é o presente, a gente tem menos pressa com o futuro.

O futuro virá, no tempo certo, sem pressa. E, quando ele chegar, virá outro futuro.

Me vejo em alto-mar, com o meu transatlântico de vida navegando em águas calmas, em direção ao sol que amanhece no horizonte, com seus raios resplandecendo nas águas, tendo o leme em minhas mãos a partir de minhas escolhas.

Descobri que a vida está dentro de mim e que ela é resultado do meu estado mental: o que penso, sinto e reajo.

Cuidar do que está dentro é o fundamental, porque é a partir do dentro que eu vejo, interpreto e interajo com o que está fora.

Hoje trabalho com mentorias e desenvolvimento de liderança, em atividades voluntárias gratuitas e remuneradas, dedicando muitas horas semanais nestas atividades, faço trilhas de longo curso, faço Pilates, estudo filosofia, experimento terapias holísticas diferentes, leio 3 a 4 livros ao mesmo tempo de temas muito diversos, busco conhecer pessoas novas e diferentes o tempo todo, vivo de forma minimalista, medito, escuto mantras, adoro pequenas coisas que me alimentam e me satisfazem – tudo isso compõe um caleidoscópio colorido para minha existência, que se expande continuamente. Tudo devagar, sem pressa, no passo que tem que ser, em uma sucessão maravilhosa de pequenos fatos de vida no meu desenvolvimento como ser humano.

Ao olhar o cenário atual, me pego pensando na minha rotina de anos atrás, como executivo de empresa, em uma agenda insana, com viagens constantes, morando em uma casa enorme, convivendo com a ansiedade de manter o que tinha e conquistar mais, ganhar mais notoriedade e sucesso perante a sociedade, preocupado se deveria trocar de carro e como manter a casa de praia, sempre com uma agenda dirigida para os outros, carregando uma mochila de vida pesando várias toneladas. Tudo isso se foi!

Foto de Mauro Segura

A CENA DE SEAN E WALTER

Para concluir o artigo, convido você a assistir a incrível cena de Sean e Walter, em vídeo, que contei no início do texto.

Preste atenção nos detalhes. Verifique que, enquanto Sean “vive o momento do leopardo”, Walter “vive o momento do Sean”. São dois momentos completamente diferentes dentro de um único momento.

É exatamente assim que vivemos no dia a dia. Os mesmos fatos, eventos e acontecimentos ressoam de forma diferente nas pessoas, gerando estados e percepções diferentes. Por isso é que ninguém no mundo vive a mesma experiência do outro. Cada um vive a sua própria experiência, o seu próprio aprendizado, a sua própria interpretação do que vê e do que sente, a partir do seu conhecimento, preconceitos, vieses, cultura e formação pessoal e profissional. Isso parece assustador, mas também é maravilhoso.

O ser humano não pode mudar os fatos da sua vida, somente a maneira como os interpreta.

A inspiração deste meu post surgiu a partir da leitura do artigo “Coragem para enfrentar o desconhecido”, de Claudia Assis, onde ela comenta lindamente o filme “A vida secreta de Walter Mitty. Em algum momento deste meu post, eu cito que o filme é um baú do tesouro. Em seu artigo, Claudia abre esse baú do tesouro para nós. Obrigado por me inspirar, Claudia.