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Vencendo o meu perfeccionismo



Em 2016 eu tinha uma reunião de trabalho muito difícil pela frente. Estava em busca da aprovação de um investimento significativo para um projeto muito importante e aquela surgia como uma reunião decisiva. A reunião era com o presidente, o CFO e mais dois diretores da empresa. Eu ocupava a posição de diretor de marketing e a reunião basicamente iria definir a viabilidade orçamentária do projeto. O prazo já estava apertadíssimo.


Por mais que eu e a equipe gerencial de marketing já estivéssemos nos preparando para aquele momento, a sensação é que ainda não tínhamos todos os elementos em mãos. Mas a hora havia chegado. O time passou dias preparando um elaborado material em powerpoint. Eu iria sozinho para a reunião, por isso eu precisava estar seguro e plenamente satisfeito com o material, já que ele seria a base da discussão.


Na véspera do dia da reunião, eu recebi o powerpoint do time. Gostei, mas inicialmente não amei, apesar de que tudo estava ali, da forma que havíamos combinado. O pessoal havia trabalhado muito bem. Quando chegou à noite, no fim de um dia intenso de trabalho, eu fui rever o powerpoint. E, lentamente, comecei a mexer no material. Mudei fontes, cores dos gráficos, tamanho das imagens, fiz uma sutil mudança na ordem nos slides, ajustei algumas frases etc. A maior parte das mudanças foram alterações cosméticas e formatações.


Na época, aleguei que agi daquela forma para melhorar a apresentação e torná-la mais eficaz, ou seja, fazê-la supostamente perfeita. Hoje vejo que foi preciosismo de minha parte. A apresentação preparada pelo time já estava excelente, completa e suficiente para a reunião com a diretoria.


Passei horas nesse processo noturno de ajustes e fui dormir no meio da madrugada, na véspera da reunião. Se eu tivesse tido mais tempo, certamente continuaria neste trabalho inútil e sem fim de aprimoramento do material. Dormi mal, pouquíssimas horas, com a adrenalina circulando no sangue. Na manhã seguinte, fui cedo para a reunião.


Quatro anos depois, em 2020, no primeiro ano da pandemia de COVID-19, eu me descobri apaixonado por caminhadas de longo curso (trilhas com centenas de quilômetros).


Na época, mesmo com as dificuldades impostas pelo distanciamento social exigido pela pandemia, eu fazia treinamentos diários de caminhada. Comprei equipamentos e roupas, li livros, ouvi podcasts e assisti muitos vídeos de pessoas amadoras e experientes neste tipo de atividade. Aquilo virou uma obsessão. Eu já fazia caminhadas diárias de 15 a 20 quilômetros dentro da cidade, mas faltava fazer a primeira trilha de centenas de quilômetros. Eu estava muito ansioso. Até havia me planejado para fazer o Caminho de Santiago de Compostela, mas a pandemia havia inviabilizado essa possibilidade.


O estudo, planejamento e preparação eram muito condizentes para uma pessoa do meu perfil, que precisa se sentir seguro para entrar em coisas novas. Hoje tenho mais consciência de que exagerei em algumas coisas, mas meu comportamento foi sempre com o bom intuito de me preparar melhor. No fundo, houve um exagero desnecessário, porque eu já estava preparado o suficiente para iniciar as caminhadas de longo curso. Lembro que pensei: “Chega! Acho que estou pronto, chega de me sentir despreparado para partir para minha primeira trilha sozinho. Perfeição não existe.”


Estas duas histórias pessoais me vieram a mente quando ouvi o episódio “115- Desconstruindo o nosso perfeccionismo” do excelente podcast Autoconsciente, de Regina Gianetti. O podcast iluminou o meu flerte diário com o perfeccionismo e mudou o meu pensamento sobre ele.


Por várias vezes na vida olhei para o meu perfeccionismo nativo como algo positivo, mesmo tendo consciência dos incômodos que ele me provocava.


Nunca me achei bom o suficiente no futebol, apesar de ter jogado na federação carioca de futebol de salão por vários anos. Nunca me achei um brilhante profissional em marketing e comunicação, apesar de ter recebido vários prêmios e reconhecimentos importantes em minha trajetória. Nunca me considerei um excelente pai de família, apesar de ter uma família linda, com filhos bem estabelecidos e resolvidos na vida. E assim venho alimentando a minha “síndrome do impostor” ao longo dos anos, sendo supercrítico no auto reconhecimento de meus méritos, convivendo com uma recorrente sensação de insegurança e gerando uma consequente percepção de que nunca sou bom o bastante… tudo isso, inevitavelmente, cria o efeito colateral do meu perfeccionismo exagerado.


Curiosamente, o podcast de Regina Gianetti me permitiu reavaliar a leitura que eu tinha das duas histórias da minha vida que contei acima. A princípio, ambas me pareciam consequências do meu perfeccionismo exagerado e tinham nascido de uma mesma fonte de comportamento interno, mas não é bem assim. Vou falar mais sobre isso adiante, mas antes compartilho um pouco do que aprendi nas minhas leituras sobre “ser perfeito”.


A tendência para o perfeccionismo, de alguma forma, existe em todos nós. Para alguns, o perfeccionismo emerge em situações de vulnerabilidade e insegurança. Para outras pessoas, pode ser compulsivo e crônico, quase como um vício. E quando junta essas duas linhas? Neste caso o perfeccionismo torna-se debilitante.


O Professor Marcelo Tavares, do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília, em sua entrevista para o site do CVV (Centro de Valorização da Vida), alerta que o perfeccionismo é apontado por pesquisadores como um dos fatores de risco para depressão e suicídio, apesar de que esta é uma situação extrema. Ele diz que o principal fator de risco é a dor e a ideia de se estar passando por um sofrimento considerado intolerável. “A grande maioria dos perfeccionistas não vai tentar o suicídio e consegue funcionar dentro do seu perfeccionismo”, observa.


A pesquisadora e escritora Brené Brown diz que o perfeccionismo é sobre conquistar aprovação e aceitação, é quando deixamos de pensar na gente e colocamos foco nos outros. O que os outros vão pensar? Segundo ela, o perfeccionismo é um pesado escudo de proteção que carregamos conosco acreditando que ele irá nos proteger da vergonha, da crítica e da culpa. Ele se torna ainda mais danoso diante da possibilidade de sentirmos dor por acharmos que não somos bom o bastante e corrermos o risco de um eventual fracasso.


Foi isso que aconteceu comigo na experiência da apresentação para a diretoria. Eu tinha medo de fracassar e ser criticado pelos meus superiores. Também tinha medo de decepcionar o meu time, de transparecer a imagem de um líder incompetente e de me sentir culpado perante colegas de trabalho sob meu comando. Enfim, eu senti medo!! Por isso levantei o escudo do meu perfeccionismo exagerado, na crença de que uma apresentação perfeita (powerpoint, argumentação, aparência, atitude etc) evitaria e minimizaria a dor da culpa, da crítica e da vergonha no caso de um eventual insucesso na empreitada.


Avalio que o meu perfeccionismo exagerado está dentro de mim desde pequeno e funciona como uma blindagem em muitos momentos. Vejo que isso não acontece somente comigo, é algo generalizado, fruto da sociedade do desempenho que vivemos. Estou consciente disso, porém esta minha consciência não foi suficiente para sufocá-lo ou diminuí-lo ao longo da maior parte da vida, especialmente na primeira metade da minha existência.


Ouvimos de todos os lados: “seja a sua melhor versão”. Isso cria dentro de nós uma busca insana por sermos pais perfeitos, profissionais perfeitos, construirmos famílias perfeitas, relacionamentos perfeitos, perfeito equilíbrio entre vida pessoal e trabalho etc. Recebemos pressão por sucesso de todos os lados para darmos o melhor de nós e buscarmos a perfeição. A princípio até parece legal termos isso em mente a todo momento, dentro do conceito de que devemos sempre melhorar a cada dia. Porém, na essência, isso nos cria mais frustração e stress do que bem estar.


Estamos sempre exigindo muito de nós mesmos, nunca é suficiente, sempre puxando a corda, sempre nos sentindo atrás dos outros… sempre!

Muitas vezes, o meu perfeccionismo interior roubou alegria e celebração pelas minhas realizações, transformando-se em um peso dentro de mim. Acho que até hoje nunca fico plenamente satisfeito com o que faço, aprecio parcialmente as conquistas e sempre tenho a sensação de que eu poderia ter feito melhor.


Sempre me achei excessivamente detalhista, apesar de me esforçar muito para não transparecer isso para os outros. Sempre procurei ter as coisas sob controle. Minha estrutura de pensamento é simples: quanto maior o planejamento, quanto mais detalhista e perfeccionista, maior controle eu terei sobre as coisas. Fui assim a vida toda… infelizmente.


Eu lembro de um grande projeto que liderei e que, no término dele, quando todos estavam comemorando a entrega e a superação dos resultados, eu estava no canto registrando os pequeninos erros e defeitos para alimentar uma reunião de debriefing e aprendizados que seria feita no dia seguinte… a meu pedido. Será que eu não poderia ter feito isso depois e ter ficado junto com o time na celebração? Claro que sim!


Com o time de marketing da IBM Brasil em 2018

Brené Brown afirma que existe uma evidente DIFERENÇA entre PERFECCIONISMO e BUSCA POR EXCELÊNCIA, dois conceitos que podem ser facilmente confundidos. Eu nunca havia avaliado isso muito bem e, confesso, sempre misturei os dois conceitos na minha cabeça.


PERFECCIONISMO tem na sua origem alguma preocupação ou dor, podendo ser a dor da crítica, da vergonha e/ou da culpa. Na BUSCA POR EXCELÊNCIA não há medo. A busca por excelência é fazermos o nosso melhor com dedicação, cuja maior motivação é o nosso desejo de crescimento, satisfação pessoal ou o amor pela atividade que realizamos. A busca por excelência está relacionada a desenvolvimento pessoal, sendo uma espécie de esforço saudável que está centrado no “como posso melhorar”.


Aprendi, então, que a minha experiência no desenvolvimento nas caminhadas em trilhas de longo curso não foi um caso de perfeccionismo exagerado. Esta minha história foi um caso de “busca por excelência”, aperfeiçoamento pessoal, porque não envolveu dores, críticas de terceiros ou preocupações. Era apenas eu comigo mesmo, nada mais do que isso. Achei maravilhoso entender este conceito e lembrei de outras histórias de minha vida, que carimbei equivocadamente como perfeccionismo. Isso amenizou um pouco a minha relação com a busca por ser perfeito.


Nos meus primeiros anos como gerente (há muuuuito tempo), em uma reunião com o time liderado por mim, recebi um feedback duro do pessoal dizendo que eu estava exagerando com algumas exigências e sendo um líder intransigente. Na minha ingenuidade, eu agradeci o feedback e disse que ia melhorar. Por fora eu sorri, mas por dentro eu reagi negativamente. Achei que aquela turma estava agindo daquela maneira porque eles nunca tinham sido liderados por um líder exigente, disciplinado e realmente comprometido com a excelência e a perfeição. Eu via o meu compromisso com a perfeição como uma virtude. Revendo aquele caso, eu vejo o quanto eu era um líder despreparado e iludido. Aliás, já contei no blog uma das fases mais desafiadoras como líder em um post chamado “Quando descobri que era um péssimo líder”. 


Na IBM Brasil em 2008

O fato é que as pessoas que buscam perfeição têm um grau de exigência pessoal elevado. Quando assumem posições de liderança e gestão, tendem a transferir essa exigência para seus colaboradores e pares, tornando a vida de quem trabalha com elas muito difícil e, às vezes, insuportável.


A questão não é somente com a liderança. Em uma organização, sempre somos subordinados a alguém. Se você se considerada um perfeccionista, intrinsicamente você avalia seus colegas, seus chefes e todos ao seu redor com a sua régua imaginária de perfeição, pensando ou emitindo críticas, criando vieses na sua cabeça e transformando o seu dia a dia em um constante loop de insatisfação por considerar que está cercado de pessoas que não estão fazendo o suficiente e não estão alinhados com o seu jeito diferenciado de trabalhar. Inconscientemente você estabelece uma vida profissional miserável para si mesmo por conta de seu comportamento. Por outro lado, seus colegas verão você como uma pessoa chata devido às suas exigências constantes desnecessárias, sendo uma companhia indesejável para a rotina diária, podendo receber o carimbo de uma pessoa ansiosa, crítica, negativa e rabugenta.


Mas qual é o ponto de equilíbrio? Eu não sei a resposta e nem me arrisco a elaborá-la. Apenas me sinto capaz de contar sobre a minha experiência. Mas antes de falar mais sobre mim, compartilho aqui dois testes.


O primeiro teste é aquele publicado no Universa UOL. É simples e fácil. Entre neste LINK e responda 10 perguntas. Não pense muito, responda intuitivamente. É divertido e rápido.


Eu fiz o teste e eis a avaliação que recebi:


Um pouco exagerado – A mania de perfeição ainda não está prejudicando totalmente sua rotina e sua autoimagem, mas, de acordo com suas respostas, falta pouco para isso acontecer. Você ainda consegue perceber que uma ou outra ação poderia ser dispensada, sem comprometer resultados ou objetivos. Então, reveja atitudes e melhore sua autoconfiança.


O segundo teste vem de um livro chamado “How to Be an Imperfectionist: The New Way to Self-Acceptance, Fearless Living, and Freedom from Perfectionism”, de Stephen Guise. Em uma tradução livre para o português, seria mais ou menos o seguinte: “Como ser um imperfeccionista: o novo caminho para a autoaceitação, uma vida sem medo e a libertação do perfeccionismo”.


Infelizmente este livro não tem versão em português. A Regina Gianetti, em seu podcast, comenta sobre o livro e achei interessante um grupo de indicadores criado pelo autor.


Ele diz: responda as perguntas a seguir atribuindo uma escala de 1 a 5.


  1. O quanto você tem de expectativas irreais sobre você mesmo ou sobre suas realizações?

  2. O quanto você tem de pensamentos do tipo: eu deveria ter feito tal coisa ou não deveria ter feito tal coisa?

  3. O quanto você tem necessidade de aprovação?

  4. O quanto você tem medo de errar?

  5. O quanto você tem dúvidas para tomar decisões ou agir?


Quanto mais próximo de 5 for a pontuação que você se deu, mas o perfeccionismo pega você. 


Fazendo trilha

Revendo a minha vida, tanto pessoal quanto profissional, eu avalio que o meu perfeccionismo exagerado me trouxe mais dificuldades do que benefícios.


A primeira dificuldade foi a inibição, que se junta com a vergonha. É o velho pensamento: “o que os outros vão pensar de mim?” Meu maior exemplo é o inglês. Eu nunca fui fluente em inglês e acredito que o grande obstáculo para meu desenvolvimento foi me exigir um inglês falado perfeito. Eu carreguei este peso de vinte toneladas durante toda minha vida profissional, especialmente por ter trabalhado em várias empresas globais norte-americanas. Isto sempre foi um peso muito grande, gerando recorrente inibição e roubando oportunidades importantes de vida.  


A segunda dificuldade foi a paralisia e o imobilismo. Por várias vezes eu travei por receio do resultado final não sair como eu esperava. Eu gastava muito tempo me preparando, me planejando em como fazer melhor, em vez de realmente começar logo a fazer, aprender e evoluir. No final, os planos não saíam da intenção e do papel e eu acabava não fazendo nada. Tenho inúmeros exemplos pessoais, especialmente em viagens, desenvolvimento de habilidades pessoais e profissionais. É um caminhão de exemplos.  


A terceira dificuldade foi a procrastinação. Ou seja, adiar para começar a fazer. Nisso eu sou craque. Tenho a tendência de esperar pelo contexto ideal para fazer alguma coisa. Fico esperando pelo momento ideal, por ter todos os recursos em mãos, as condições ideais… e com isso as coisas vão ficando maduras e as oportunidades passam, a motivação e o entusiasmo diminuem, o encantamento desaparece e a energia se esvai. Esta talvez seja a minha característica mais evidente. Tenho consciência de que é uma característica muito ruim, de que preciso mudar, porém ainda tenho muito para evoluir, apesar que nos dois últimos anos eu venho atacando-a de frente e conseguindo algumas belas vitórias pessoais.


A quarta dificuldade é consequência da terceira, ambas estão completamente conectadas, que é o alongamento do tempo de execução das coisas. Chega uma hora que algo dentro de mim diz: “Chega! Para de enrolar! Esta é a hora! Vai fazer as coisas mesmo não estando tudo pronto e seguro.” É nesta hora que paro de procrastinar (dificuldade 3) e faço o que precisa ser feito. Apesar da falta de confiança, eu parto para a ação. Confesso, é um sofrimento até chegar à tomada de decisão porque fico me sentindo ainda não devidamente preparado, mas vou em frente, mesmo com dor e insegurança. Isso aconteceu tantas vezes na minha vida.


Um grande exemplo foi no meu lado profissional, quando eu tinha que tomar difíceis decisões de organização, de movimentar, demitir e contratar pessoas. Muitas e muitas vezes eu demorei demais, e isto impactou organizações, negócios e pessoas. Acho que dá para imaginar o quanto de sofrimento vivi ao longo destes processos de movimentação de pessoas. 

Perguntei para amigos(as) e colegas de trabalho sobre minhas características, na tentativa de identificar se eles me avaliam com traços de perfeccionista. Generosamente me responderam com muitas características positivas. São amigos(as), né?


Colegas de trabalho falaram que sou justo, atento, genuíno, transparente, entusiasmado, cuidadoso, gentil, acolhedor, confiável, mentor, carismático, divertido e contador de histórias. Amigos(as) fora do trabalho falaram que sou um cara “certinho”, simpático, boa companhia, cumpridor de horários, parecendo um pouco metódico, exigente e cdf.


Como pontos a melhorar, colegas de trabalho falaram que, às vezes, sou prolixo, negativo, pessimista, um pouco idealista, o que resulta em falta de pragmatismo. Recebi feedback que tenho pouco escuta ativa nos momentos que estou entusiasmado. Parece que a minha empolgação é tanta, que os meus ouvidos se fecham para ouvir os outros e minha capacidade de diálogo diminui bastante. Bom feedback, né? Por fim, ninguém falou que sou perfeccionista.


Uma possível conclusão, depois do feedback dos meus amigos(as) e colegas, é que meu perfeccionismo é algo que vive somente dentro de minha mente, porque pouco externalizo e transpareço essa característica para as pessoas ao meu redor. Isso, confesso, me trouxe alguma tranquilidade.


Sinto que o meu nível de perfeccionismo reduziu bastante nos últimos dois anos. Talvez isso seja mais percepção do que fato, mas estou buscando atacar essa minha característica que parece fazer parte do meu DNA. Aos 62 anos de idade, eu estou certo de que reduzir o meu perfeccionismo tornará a minha vida mais fácil e prazerosa, além de me abrir mais para novas perspectivas e possibilidades.


Uma das coisas que tem me ajudado é a jornada de autoconhecimento que vivo no dia a dia. Estudar filosofia ajuda muito. Ao reconhecer e aceitar as minhas limitações e deficiências, automaticamente aceito que sou um ser falível. O meu desenvolvimento pessoal vem com as minhas experiências de vida, e disso faz parte a tentativa e o erro, o cair e o levantar, o andar para frente e o andar para trás. Ser perfeito não é da essência humana, e atualmente estou bem com isso. Por que então insistir na perfeição?


“Feito é melhor que perfeito.” Esta frase ganhou novas dimensões para mim a partir do momento que não estou mais criando grandes expectativas para as coisas. O meu foco é aprender, muitas vezes pela experimentação e ir melhorando aos poucos. Isso é desenvolvimento, progresso e evolução. Qualquer umas destas palavras se encaixa bem no meu espírito atual. O meu ganho é o fazer e não necessariamente obter o resultado impecável. Ou seja, é agir para o “fazer” e não para o “fazer excelente e sem erros”. Com isso reduzi a vergonha e o medo inibidor de não fazer bem, o que permitiu dar uma chacoalhada na base do modelo da perfeição.


Outra coisa que mudei radicalmente foi a perspectiva: em vez de focar em coisas grandes e complexas, eu mudei o alvo para fazer mais coisas pequenas e simples, que sejam alcançáveis, possíveis e suficientes. Esse caminhar de passos menores me cria uma sensação de realização e conquista, me exigindo menos, tornando a vida mais fácil e menos complexa.


Isto tudo parece teórico, mas como diz Stephen Guise em seu livro, são mini hábitos que precisamos incorporar em nosso modo de pensar e agir. Eu tenho trabalhado isso em minha rotina diária e acho que tem dado certo.


A princípio, o título deste artigo seria “O perfeccionismo que me corrói”. Foi com este título em mente que comecei a escrever este texto. No entanto, depois que acabei de escrevê-lo, lendo e relendo-o, achei que era inadequado. Eu não me sinto mais maltratado pelo meu perfeccionismo, ele não me domina mais. Já foi no passado, mas agora tenho consciência e dou espaço a ele quando bem entendo. Portanto, esta batalha eu venho vencendo no dia a dia. Daí mudei o título para “Vencendo o meu perfeccionismo”, que é mais coerente com meu momento atual.


Como já citado antes, este artigo tem por base os aprendizados obtidos no episódio “115- Desconstruindo o nosso perfeccionismo” do podcast Autoconsciente, de Regina Gianetti. Este episódio me provocou uma bela revisão de vida. Incentivo você a ouvi-lo atentamente porque vale a pena. Obrigado, Regina.


A imagem que ilustra este texto, mostrando o mesmo pacote de biscoitos fechado de duas formas, foi feita por mim, em casa. Este é um pequeno exemplo do meu preciosismo ao fechar pacotes abertos. Isso será perfeccionismo ou TOC?


Ahhh, lembra daquela reunião que contei no início do artigo? A reunião com a presidência da empresa foi longa e difícil, mas consegui avançar com projeto que recebeu aceitação e compromisso de ser avaliado com seriedade e brevidade nas semanas que se seguiram. Por fim, o projeto foi aprovado e realizado no ano seguinte conforme o planejamento discutido. Era o projeto chamado “100 Anos de IBM no Brasil”, um programa robusto e complexo, que contei no post “Segredos da construção do projeto Centenário da IBM Brasil” publicado no meu blog.


Na IBM Brasil no ano do centenário – em 2017


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