Hartley, Frankl e Goenka: Encontrando Sentido na Adversidade
- Mauro Segura
- 19 de abr.
- 15 min de leitura
Atualizado: há 4 dias
Em outubro de 2013, na Inglaterra, um violino foi arrematado em uma famosa casa de leilões pela quantia de 1,7 milhões de dólares americanos.
Não era um violino sofisticado, muito menos construído com excepcionais materiais e madeira rara. Na verdade, era um violino comum em sua composição, desgastado pelas marcas do tempo. O que faz dele especial é a sua história.
Foram vários anos de inúmeras atividades meticulosas de recolhimento de provas e análises detalhadas de rastreamento, até a certeza final da origem e história daquele instrumento.
Ele foi encontrado em 2006, no sótão de uma casa na Inglaterra, dentro de uma mala de couro surrada, com as iniciais WHH.
WHH significa Wallace Henry Hartley.

A História do Violino de Wallace Hartley
Wallace Hartley morreu no naufrágio do Titanic, na madrugada de 15 de abril de 1912, com apenas 33 anos de idade. O violino foi encontrado dez dias após o naufrágio, dentro da tal mala de couro, presa ao corpo de Hartley.
Na época, ninguém deu muita importância à mala e ao instrumento. Afinal, eram apenas detritos, como tantos outros encontrados nas toneladas de “lixo” recolhidas no mar após o naufrágio. Ao longo das décadas seguintes, o instrumento passou pelas mãos de várias pessoas, quase todas da mesma família. E passou muitos anos de posse do “Exército da Salvação”.
O instrumento ficou guardado no fundo de armários, depósitos e sótãos, largado como algo pouco relevante. Chega a ser surpreendente que a mala de couro e o violino não tenham sido perdidos ao longo de tantos anos, já que todos negligenciaram o real significado daquele instrumento raro.
A saga da identificação do violino é uma história muito interessante e pode ser encontrada nesse LINK.
Recomendo fortemente o vídeo de 36 minutos chamado “The Missing Violin. Wallace Hartley”. Trata-se do Episódio 8 da série “Beyond The Titanic”. É excepcional.
A Última Atuação da Orquestra do Titanic
Hartley era violinista e maestro. Segundo registros, ele era o líder da orquestra do Titanic, formada por oito músicos.
Aqui, chamarei o grupo de músicos indistintamente de “orquestra” e “banda”, apenas para dar mais fluidez ao texto.
A história conta que, quando o navio colidiu com o iceberg, na noite de 14 de abril de 1912, e começou a afundar, os músicos se posicionaram no convés e tocaram por longo tempo, enquanto o caos e o desespero se estabeleciam no navio, mesmo conscientes de que a morte se aproximava.
Esse fato é verdadeiro e foi confirmado por inúmeros depoimentos de sobreviventes do naufrágio.
O que mais me intriga nessa história foi a atitude dos músicos. Por que eles agiram dessa forma?

Por Que Tocar Enquanto o Titanic Afunda?
Pesquisei na internet o que já foi publicado sobre esse comportamento. Eis o que encontrei.
Dever e Honra
O fato carrega tinturas de fidelidade ao “dever e honra”. Na época, músicos de navios de luxo, como o Titanic, tinham uma postura quase militar em relação ao dever. Hartley era conhecido por sua seriedade e senso de responsabilidade, portanto é possível que ele atribuído como sua missão manter a calma entre os passageiros.
Hartley agiu dessa forma, provavelmente, porque achava que aquilo era o certo a se fazer naquele momento. Tocar música ajudaria a amenizar o pânico, trazendo uma percepção de normalidade, conforto e controle.
Coragem
O ato foi uma demonstração de extrema “coragem diante da morte”. Perante a morte iminente, Hartley e seus colegas escolheram dignificar seus últimos momentos de vida, tanto os seus quanto os dos outros. Isso dá à história um manto de sacrifício e heroísmo - agir com “extrema bravura” quando a situação se mostra caótica e descontrolada.
Compaixão
Existe, também, um forte sentimento de “compaixão e doação”. A presença da música, como já dito antes, provavelmente, ajudou a acalmar e confortar muitos passageiros, que esperavam por salvação nos conveses do navio ou que já sabiam que não escapariam. Foi um gesto de empatia e cuidado, com alto senso de humanidade e piedade, que certamente impactou as pessoas que viviam um momento de extremo pavor e desespero.
Espiritualidade
A atitude da banda carrega uma significativa dose de “espiritualidade”. Muitos relatos dizem que a última música tocada pelos músicos foi "Nearer, My God, to Thee" ("Mais perto, meu Deus, de Ti"), uma música cristã que fala da aproximação de Deus na morte. Existem controvérsias sobre essa história, mas se for verdade, o gesto ganha ainda mais força simbólica, pois representa entrega, adeus e aceitação.
Legado simbólico
Por fim, a história da “banda tocando até a morte no Titanic” transformou-se em lenda, um símbolo de forte “impacto cultural”, representando resiliência e dignidade diante da morte inevitável.
No famoso e excepcional filme Titanic, o diretor James Cameron criou a cena dos músicos tocando durante o naufrágio repleta de grande intensidade emocional, tornando-a em uma das cenas mais impactantes do longa-metragem.
Como Hartley Encontrou Sentido no Naufrágio
Os pontos citados anteriormente analisam o fato por diversas dimensões, mas será que respondem, de verdade, a pergunta fundamental: o que verdadeiramente está por trás da atitude de Hartley e seus músicos?
Porque Hartley sobrepujou o instinto de sobrevivência?
O que levou os músicos a transcenderem o natural impulso de tentarem salvar as suas vidas?
Eu não sei a resposta.
Me parece impossível imaginar a resposta diante do contexto daquela noite.
Por mais que eu tente, eu me sinto incapaz de interiorizar o que acontecia naquele momento: o navio gigante estava naufragando, o pânico era generalizado, a temperatura ambiente era negativa e o mar supergelado, eram mais de 2 mil pessoas na iminência da morte por afogamento ou congelamento, não havia botes para todos, tudo isso acontecendo no meio do Oceano Atlântico Norte, em uma madrugada com céu estrelado, sem nuvens e mar calmo e sossegado.
Qual seria a sua atitude se você fosse um dos músicos daquela banda?
Estaria tentando se salvar desesperadamente como todos? Estaria brigando por um lugar nos botes?
Ou optaria por tocar seu instrumento em paz, aguardando pelo “seu momento”?
Podemos caracterizar a atitude da banda como inusitada, insana ou bizarra.
No entanto, todos concordamos com a seguinte afirmação: a atitude de Hartley e sua banda foi grandiosa.

Viktor Frankl e a Busca por Sentido
Viktor Frankl é considerado um dos expoentes da psicologia no século XX.
Ele foi o criador da logoterapia, o que já é um grande destaque, mas tudo torna-se mais especial ao sabermos que ele foi um sobrevivente do Holocausto, com uma incrível história de vida e uma visão incomum de liberdade e responsabilidade.
Ainda jovem, Frankl estruturou os conceitos básicos da logoterapia. Ele acreditava em uma “psicoterapia mais humana”, entendendo que o significado da vida pode ser encontrado em quaisquer circunstâncias, mesmo nas mais miseráveis e impiedosas.
Aos 37 anos, Frankl, seus pais e esposa, grávida, foram capturados e tornaram-se prisioneiros, em diferentes campos de concentração nazistas.
Ironicamente, ao viver de forma dramática a experiência e os horrores do Holocausto, passando por intensas privações e situações extremas, Frankl aplicou na prática os fundamentos da logoterapia, validando-os e evoluindo em suas ideias.
Frankl conta que esteve por morrer por diversas vezes, mas o universo, de alguma forma, sempre apresentava uma saída para ele. Foram mais de três anos sobrevivendo nos campos. Quando libertado, ele pesava 25kg. Então, ao buscar notícias de seus familiares, ele descobriu que sua esposa, pais e irmão haviam morrido nos campos nazistas.

Liberdade Interior é a Mais Profunda das Liberdades Humanas
O livro mais famoso de Viktor Frankl (é realmente extraordinário!!) tem o título de “Em Busca de Sentido” e foi escrito nos dias seguintes à sua libertação.
A ideia central está no conceito de que a força que move o ser humano está na “busca de um sentido de vida”.
Diferentemente da psicanálise de Freud, focada em instintos, ou da psicologia de Adler, centrada em poder, a logoterapia de Frankl estabelece que os seres humanos podem encontrar motivação de vida ao dar significado para suas experiências, mesmo diante de situações adversas ou intenso sofrimento.
Sua filosofia ressalta que, mesmo sem controle sobre as circunstâncias, sempre podemos escolher as nossas escolhas e atitudes perante a dor. Esse pensamento foi fundamental para que Frankl sobrevivesse a todos os traumas vividos no Holocausto e, também, depois, ao saber da perda da família.
No livro, o autor relata como os prisioneiros, e ele próprio, resistiam encontrando propósito diante do horror e do sofrimento a que eram submetidos rotineiramente.
Viktor Frankl influenciou e continua influenciando gerações, amplificando o conceito de que a “liberdade interior” é a mais profunda das liberdades humanas.
Ele faleceu em 1997, com 92 anos de vida.

Encontrando Sentido na Adversidade
A resistência de Frankl aos campos de concentração foi baseada em 3 pilares:
Liberdade de atitude: Escolher a resposta ao sofrimento
Sentido futuro: Projetar vida após o campo
Amor transcendental: A conexão com a esposa (mesmo sem saber se ela vivia)
Convido você a realizar o "Curso de Logoterapia - O Sentido da Vida", de Flavio Gonzalez, que está disponível no Spotify.
Flavio Gonzalez é Psicológo, Palestrante, Professor, Teólogo, e Pesquisador, pós-graduado em Logoterapia, com uma lista enorme de formações e certificações.
O curso que ele disponibilizou de forma gratuita no Spotify é extraordinário. São 30 aulas, onde cada aula tem duração média aproximada de 45 minutos. Cada aula é melhor do que a outra. É absolutamente sensacional!! Lá você irá conhecer a biografia de Frankl e todos os conceitos da Logoterapia, de forma teórica, prática e filosófica.
Este meu artigo foi profundamente inspirado nas aulas proferidas pelo Professor Flavio. Muito obrigado!
A Transcendência do Destino
Quando falamos de destino, quase sempre associamos destino à predestinação, como se estivéssemos predestinados a determinados acontecimentos da vida. Essa é uma crença mítica, às vezes até religiosa, funcionando como justificativa e alento para muitas pessoas.
Na visão de Viktor Frankl, a palavra “destino” designa tudo aquilo que cai sobre nós, porém não faz parte de nossas escolhas. Eis dois simples exemplos: o lugar onde nascemos e os pais que temos.
Provavelmente alguns dirão que a morte no Titanic era o destino daquelas pessoas que estavam no navio - elas nasceram predestinadas a viver e morrer naquela noite fria. Outras estavam predestinadas a viver a experiência do naufrágio, mas por algum motivo sobreviveram.
E o que falar das pessoas que morreram no Holocausto? Alguns dirão: “esse era o destino delas”.
Segundo Frankl, “não se trata de cumprir ao destino, mas como responder a ele”.
A resposta face ao nosso destino é uma sempre escolha nossa. Em quaisquer circunstâncias, por piores que sejam, nós sempre temos a possibilidade de escolher – Viktor Frankl
Eu, pessoalmente, vejo isso como uma espécie de “transcendência do destino”.
Em vez do destino me envolver e me limitar, criando paredes e fronteiras ao meu redor e à minha existência, eu imagino o destino sendo envolvido por mim. Sou eu que determino e moldo o meu destino, conforme minhas escolhas e decisões. Eu chamo isso de “transcender o destino”.
No livro “Em Busca de Sentido”, Frankl escreve:
“Pela maneira com que uma pessoa assume o seu destino inevitável, assumindo com esse destino todo o sofrimento que se lhe impõe, revela-se, mesmo nas mais difíceis situações, mesmo no último minuto de sua vida, uma abundância de possibilidades de dar sentido à existência”.
Convido você a assistir essa excelente entrevista de Viktor Frankl concedida à CBC Television em 1977.
A pessoa interiormente pode ser mais forte que o seu destino exterior - Viktor Frankl
Equanimidade Segundo Goenka: Paz em Meio ao Caos
A primeira vez que me deparei com o conceito de Equanimidade foi na minha experiência no Retiro Vipassana, detalhadamente descrita no meu longo artigo “10 Dias em um Retiro de Meditação Vipassana: meu diário de transformação”. Recomendo muito a leitura. Foi no retiro que conheci os ensinamentos de S. N. Goenka.
S. N. Goenka é o mais importante mestre da Meditação Vipassana no mundo moderno. Ele criou centros de meditação em mais de 100 países. Seus cursos de 10 dias em silêncio são oferecidos gratuitamente, mantendo a tradição de que o Darma (ensinamento) não deve ser comercializado. Ele faleceu em 2013, mas seu trabalho continua influenciando milhões de praticantes. Eu sou um deles.
Auto-observação, Consciência e Impermanência
A equanimidade, como ensinada pelo Sr. Goenka, é a arte de observar a realidade sem reagir, cultivando uma mente equilibrada diante de qualquer experiência.
Ela surge quando desenvolvemos a capacidade de auto-observação, percebendo nossas sensações, emoções e pensamentos com clareza e neutralidade. Essa auto-observação imparcial nos leva a uma consciência mais aguçada, onde reconhecemos que tudo é impermanente: prazer e dor, alegria e tristeza, tudo surge e passa.
Ao não nos apegarmos nem rejeitarmos o que surge, rompemos o ciclo de reações automáticas e encontramos paz interior. Portanto, a equanimidade não é indiferença, mas sim a presença plena e aceitação sábia da vida como ela é.
Equanimidade em Momentos Extremos
Wallace e Frankl exemplificam a equanimidade em situações extremas.
Hartley se empoderou através de sua compaixão na busca de aliviar o sofrimento dos passageiros, enquanto Frankl encontrou significado no sofrimento, escolhendo uma resposta interior diante de intensa adversidade.
Ambos demonstraram que a equanimidade não é passividade, mas força interior - a capacidade de observar o caos sem ser dominado por ele, reconhecendo a impermanência das circunstâncias.
As histórias mostram que, mesmo em meio ao desespero, a mente equilibrada foi capaz de encontrar clareza, propósito e liberdade.
Mesmo pensando dessa forma, tentando ser o mais “elevado” possível, eu me vejo completamente incapaz de me imaginar agindo de forma equânime se eu estivesse na “pele” de Hartley ou Frankl.
Raiva, Desespero e o Poder da Equanimidade
A raiva e o desespero são explosões naturais da mente inconsciente, ou melhor, reações cegas que nos dominam quando perdemos o contato com o presente.
Sr. Goenka ensina que essas emoções intensas se manifestam primeiro no corpo como sensações físicas: calor, aperto no peito, respiração acelerada, dores musculares (foi o que senti ao longo de 10 dias de Meditação Vipassana). O segredo não está em reprimi-las, mas em observá-las com equanimidade, como testemunhas imparciais.
Quando praticamos essa auto-observação, rompemos o ciclo automático de reação - descontrole - arrependimento. O desespero que antes parecia incontrolável revela sua natureza transitória - são apenas ondas passageiras no oceano da consciência. A Vipassana nos mostra que a verdadeira liberdade está em reconhecer essas emoções sem se identificar com elas.
Cada ataque de raiva ou momento de desespero torna-se então uma oportunidade de crescimento. Sr. Goenka diz que "as emoções fortes são os nossos melhores professores".
Ao desenvolver essa consciência corporal equânime, transformamos a relação com nossas sombras, substituindo o descontrole por clareza, e a reatividade por sabedoria responsiva. Será que foi isso que ocorreu com Hartley e Frankl?

A Grandiosidade nas Pequenas Escolhas
Talvez eu nunca passe por uma situação de vida que me permita agir aos olhos do mundo com a grandiosidade de Hartley ou com a sabedoria de Frankl.
No entanto, todos os dias, eu me deparo com infinitas oportunidades em que posso agir de forma grandiosa, na minha individualidade e aos meus próprios olhos, sem precisar me expor ou buscar visibilidade.
A minha grandiosidade está nas minhas escolhas e nos meus pequenos gestos do dia a dia. Sou eu comigo mesmo, mais ninguém. Eu sou o meu mundo e dou significado para ele.
O meu “naufrágio da hora” pode ser uma insatisfação no trabalho, uma dificuldade financeira, uma doença, a perda de uma pessoa querida, um desassossego familiar, um sonho quebrado, não importa. Tenho consciência que, depois de um naufrágio, sempre virá um outro, como as ondas no mar.
Enfim, cada um de nós vive os próprios naufrágios diários.
Enfrentando os Nossos "Naufrágios" Cotidianos
Cada um de nós, embarcado em nosso próprio navio, encara os icebergs que aparecem em nossa frente e que teimam em nos abalroar... o tempo todo.
Crises são inevitáveis, mas a resposta é escolha nossa.
A forma como agimos diante de cada fato da vida depende apenas de nós.
A grandiosidade está nas nossas atitudes.
São nossas escolhas que fazem a diferença, como fez Hartley e sua orquestra, e como fez Frankl ao viver com propósito por três anos dentro dos campos de concentração.
Foram as atitudes de Hartley e Frankl que os tornaram grandiosos e sábios.
Os Sonhos de Frankl: Humanidade nos Campos de Concentração
Já velho, Viktor Frankl dizia que sentia nostalgia dos campos de concentração por conta do alto nível de intensidade humanidade existente lá dentro entre os prisioneiros.
Em algumas entrevistas, ele comenta que foi algo que ele nunca encontrou ou sentiu do lado de fora dos campos, ao viver um contexto de liberdade absoluta no pós-guerra.
Frankl relata que, durantes anos, sonhou recorrentemente com os campos de concentração, mas nunca com tom de sofrimento ou tristeza, e sim com nobres sentimentos de humanidade verdadeira e liberdade interior.
Ao ouvir as entrevistas de Frankl, identifico um grande paradoxo.
Ao mesmo tempo em que sua liberdade e sua dignidade foram roubadas de forma desumana e cruel, ele também viveu, simultaneamente, o seu maior momento de liberdade interior e sentido de vida. Que incrível isso!

Os Três Valores de Frankl para uma Vida com Propósito
Frankl estabeleceu 3 categorias de valores como possibilidades concretas para o ser humano buscar sua própria realização, através de um sentido para a vida.
Ele chamou de valores criativos, valores vivenciais e valores atitudinais.
Valores de Criação (Valores Criativos)
Estes valores são realizados através da contribuição ativa do indivíduo em seu trabalho, na sua arte, na ciência, na sua forma de expressar ou qualquer ação criativa.
Exemplos: escrever um livro, pintar um quadro, desenvolver um projeto social, exercer uma profissão com dedicação. No meu caso, o meu blog pessoal, que escrevo há 17 anos, com mais de 800 artigos, é um bom exemplo.
Frankl acreditava que, ao criarmos algo, deixamos um legado e damos significado à nossa existência.
Valores de Experiência (Valores Vivenciais)
Estes valores se conectam à capacidade de vivenciar e apreciar o mundo, nos relacionamentos e na conexão com os outros, na beleza, no amor, na amizade, na cultura etc. Tais valores se relacionam ao “dar e receber”.
Exemplos: Amar alguém, contemplar uma paisagem, ouvir música e desfrutar de momentos com amigos. As longas caminhadas que faço, de centenas de quilômetros, no meio da natureza, é um bom exemplo.
Esses valores mostram que o sentido da existência também pode ser encontrado na receptividade e na conexão com o que nos cerca.
Valores de Atitude (Valores Atitudinais)
Estes valores dizem respeito à postura que adotamos diante do sofrimento, da dor, das dificuldades e até da morte, especialmente quando não podemos mudar uma situação, mas podemos escolher como reagir a ela.
Exemplos: Manter a dignidade em uma doença grave, perdoar alguém que nos feriu, enfrentar adversidades com coragem. No meu caso pessoal, cito a minha experiência no Retiro Vipassana como um bom exemplo.
Para Frankl, os valores atitudinais são os mais profundos, pois revelam a liberdade humana de dar um significado mesmo às piores circunstâncias, mostrando que o ser humano pode transcender sua condição quando encontra um "porquê" para viver.
A Beleza diante do Fim
Frankl ensinou que o sentido da vida pode ser encontrado em criar, vivenciar e escolher nossa atitude perante as circunstâncias.
Quando analisamos a história de Hartley sob a ótica de Frankl, emergem incontestavelmente os 3 valores.
Surgem os valores criativos, evidenciando o conceito do “poder da música diante do caos”. Emergem também os valores vivenciais, quando a banda demonstrou forte conexão com os seres humanos a sua volta, “dando” o que tinha de melhor, em uma atitude repleta de compaixão. Por fim, vem também os valores atitudinais, que foi a postura tomada pelos músicos, conscientes de que não poderiam mudar a situação, mas reagir de forma grandiosa perante a ela, ressignificando-a completamente.
Hartley e sua banda simbolizam a ideia de que a arte pode ser uma âncora de humanidade mesmo nos momentos mais sombrios. A escolha pela beleza diante do fim. Ao invés de fugir, gritar ou se desesperar, eles escolheram fazer música. Isso diz muito sobre o espírito humano.
O legado da nobreza silenciosa. Hartley e banda não eram capitães nem milionários. Eram músicos comuns, mas sua ação os tornou imortais na memória coletiva. É uma mensagem poderosa sobre como qualquer pessoa pode ter impacto no mundo - mesmo nos minutos finais.
Hartley e Frankl: Paralelos de Liberdade Interior
Existem semelhanças incríveis nas histórias de Hartley e Frankl.
Ambos estavam presos em suas realidades inquebrantáveis. Frankl estava preso em campos de extermínio. Hartley estava preso no naufrágio inevitável.
Ambos tinham a morte à espreita. E, ambos, optaram pela liberdade.
Frankl viveu a sua liberdade interior, documentando a sua experiência e aprendendo com ela. Hartley viveu a sua liberdade de morrer com dignidade, causando impacto aos que estavam à sua volta.
Ambos estabeleceram propósito e sentido de vida, perante as situações que viviam.
Ambos demonstraram a equanimidade do Sr. Goenka.

O Meu Processo Pessoal de Ressignificação e Propósito
Na minha humilde e cotidiana realidade, que não chega nem perto das experiências vividas por Hartley e Frankl, eu tenho tentado exercitar esses incríveis conceitos e lições que apresentei no artigo.
Ao entender e praticar, de fato, a busca por significado nos meus pensamentos, atitudes e sonhos, algumas mudanças de impacto têm acontecido na minha vida.
Estou vivendo um processo de ressignificação e propósito, onde coisas têm perdido valor e prioridade na minha existência, enquanto outras, aparentemente irrelevantes, têm se tornado cada vez mais importantes.
Esse é um processo, sem volta, e também sem ponto de chegada, porque ele está interligado ao meu desenvolvimento como ser humano. São mudanças dentro de mim. São como portais, que depois de atravessados, se fecham, não permitindo mais qualquer retorno ou meia-volta.
Situações que antes me perturbavam ou me deixavam desestruturado, não ocorrem mais. Estou mais consciente e atento ao que realmente importa.
Sinto o meu ser interior ocupando cada vez mais espaço na minha vida, nos meus pensamentos, mas minhas atitudes e nas minhas escolhas. Vivo uma experiência de transcendência. Sou muito além do que me imagino.
E você?
O que você faz nos momentos mais difíceis?
Quando você toca o seu violino?
Em que momento sua vida vira legado?
Tudo pode ser tomado de uma pessoa, exceto uma coisa: a última das liberdades humanas, a escolha da atitude pessoal diante de um conjunto de circunstâncias, para decidir o próprio caminho – Viktor Frankl

Ola Mauro. Conheci seu blog hj, 23 de abril, em pesquisas sobre o Monte Roraima que pretendo conhecer no fim do ano. Faço 65 em maio e acabo de chegar de uma jornada individual, de carro, por países da América do Sul. Me identifiquei com muitos pontos de sua vida e da atual busca de resinificado. Estou passando por esse momento. Gostaria de poder conversar com vc sobre esse ponto. Segue meu WA, agradeço se puder fazer contato. 35 998800176 Abraço, Saulo